No antigo reino de Sião, atual Tailândia, o raro elefante branco era animal sagrado. Quando o rei queria punir alguém, oferecia-lhe um. O súdito sentia-se honrado, mas logo percebia tratar-se de um “presente de grego”. Deveria dispensar sofisticados cuidados com o animal. Alimentá-lo com iguarias caras, colocar-lhe enfeites, ter empregados para cuidar dele… Acabava arruinado.
Algo semelhante ocorre em nossa vida. Há elefantes brancos em nosso caminho. Temos satisfação com eles, em princípio, mas logo percebemos que nos causam prejuízos imensos.
Alguns deles:
Ambição: Riqueza, poder, destaque social, prestígio, constituem o anseio de muitos. O ambicioso só tem olhos para aquelas realizações. Toma gosto pelos bens materiais que, sendo apenas parte da vida, convertem-se para ele em finalidade dela. Deixa de ser dono de seu dinheiro. Situa-se escravo dele. Rico materialmente, mendigo de paz. Parafraseando Jesus, podemos dizer que é mais fácil esse elefante branco passar pelo fundo de uma agulha do que seu proprietário entrar no Reino.
Vício: Em princípio, oferece o Céu. O fumo tranqUiliza; o álcool desinibe; as drogas produzem euforia… Mas é céu artificial, precário, que nos leva, invariavelmente, ao inferno da dependência. Enquanto o usuário está sob seu efeito é ótimo. Logo, porém, o corpo cobra novas doses, submetendo-o a angústias e tensões terríveis. Assim, oscila entre o céu e o inferno. Cada vez menos céu; cada vez mais inferno, à medida que se amplia a dependência. E nele se instala de vez, quando retorna ao plano espiritual, antes do tempo, expulso do próprio corpo que destruiu. Se o viciado tivesse a mínima noção do futuro dantesco que o espera, ficaria horrorizado. Haveria de lutar com todas as forças de sua alma para livrar-se desse comprometedor elefante branco.
Sexo: Dádiva divina, é por intermédio dele que entramos na vida terrestre, além de favorecer gratificante momento de intimidade entre o homem e a mulher. Entretanto, vivemos tempos perigosos, de liberdade sexual confundida com libertinagem. O sexo deixou de ser parte do amor para transformar-se no amor por inteiro. Casais que mal se conhecem falam em “fazer amor”, pretendendo uma comunhão sexual sem compromisso, em lamentável promiscuidade. É um tremendo elefante branco! Oferece euforia em princípio, mas cobra muita inquietação depois, e perene insatisfação. Com a troca constante de parceiros e a busca desenfreada de prazer, o indivíduo cai no desvairo sexual, envolvendo-se em comprometedoras perversões.
Paixão: Fixado em alguém, empolgado pela comunhão carnal, o apaixonado estende as raízes de sua estabilidade física e psíquica no objeto de seus desejos e passa a viver em função dele. Se a relação não dá certo e vem o rompimento, é uma tragédia. Suicídios, crimes passionais, loucuras variadas, são mera decorrência. Quando o amor deixa de ser um ato de doação, rebaixado ao mero desejo de posse, em que pretendemos que o ser amado submeta-se aos nossos caprichos, transforma-se em voraz elefante branco que nos exaure e desajusta.
Não nos tornaremos santos do dia para a noite, campeões do Evangelho, apóstolos do Bem, mesmo porque a Natureza não dá saltos. Consideremos, porém, em nosso próprio benefício, que é preciso avaliar se não estamos sustentando insaciáveis elefantes brancos, que nos empobrecem e infelicitam.
Elefante Branco na arte tailandesa. Imagem: http://en.wikipedia.org/wiki/
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