Um Sublime Peregrino

"É indispensável manter o Espiritismo, qual foi entregue pelos Mensageiros Divinos a Allan Kardec, sem compromissos políticos, sem profissionalismo religioso, sem personalismos deprimentes, sem pruridos de conquista a poderes terrestres transitórios." Bezerra de Menezes (Mensagem "Unificação", psicografia de Francisco Cândido Xavier - Reformador, agosto 2001)

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

A visão de Eurípedes Barsanulfo


Em face do aumento do materialismo e o surgimento de muitos seguimentos religiosos na Terra com uma aparente vivência cristã atravessamos um momento de gravidade.

Precisamos, então, mudar a maneira de viver os ensinos de Jesus em palavras, sentimentos e ações. Leiam a crônica psicografada pelo médium Francisco Cândido Xavier do Espírito Hilário Silva no livro A Vida Escreve:

“Começara Eurípedes Barsanulfo, o apóstolo da mediunidade, em Sacramento, no Estado de Minhas Gerais, a observar-se fora do corpo físico, em admirável desdobramento quando, certa feita, à noite, viu a si próprio em prodigiosa volitação. Embora inquieto, como que arrastado pela vontade de alguém num torvelinho de amor, subia, subia...
Subia sempre.
Respirava outro ambiente. Viajou, viajou, à maneira de pássaro teleguiado, até que reconheceu em campina verdejante.
Reparava na formosa paisagem, quando não longe, avistou um homem que meditava, envolvido por doce luz. E num deslumbramento de júbilo, reconheceu-se na presença do Cristo.
Baixou a cabeça, esmagado pela honra imprevista e ficou em silencio, incapaz de voltar ou seguir adiante. Ofuscado pela grandeza do momento, começou a chorar...
Grossas lágrimas banhavam-lhe o rosto, quanto adquiriu coragem e ergueu os olhos, humilde. Viu, porém, que Jesus também chorava...
Traspassado de súbito sofrimento, por ver-lhe o pranto, desejou fazer algo que pudesse reconfortar o Amigo Sublime...
Recordou, no entanto, os tormentos do Cristo, a se perpetuarem nas criaturas que até hoje, na Terra, atiram-lhe incompreensão e sarcasmo...
Nessa linha de pensamento, não se conteve. Abriu a boca e falou suplicante:
- Senhor, por que choras?
O interpelado não respondeu. Mas desejando certificar-se de que era ouvido, Eurípedes reiterou:
- Choras pelos descrentes do mundo?
Enlevado, notou que o Cristo agora lhe respondia ao olhar. E, após um instante de atenção, respondeu em voz dulcíssima:
- Não, meu filho, não sofro pelos descrentes aos quais devemos amor.
Choro por todos que conhecem o Evangelho, mas não o praticam...

Eurípedes não saberia descrever o que se passou então.
Como se caísse em profunda sombra, ante a dor que resposta lhe trouxera, desceu, desceu... E acordou no corpo de carne.
Era madrugada. Levantou-se e não mais dormiu.
E desde aquele dia, sem comunicar a ninguém a divina revelação que lhe vibrava na consciência, entregou-se aos necessitados e aos doentes, sem repouso sequer de um dia, servindo até a morte.”

Para refletir

" Tempo é tesouro divino em nossas mãos, contudo somente vale se lhe damos valor".

André Luiz

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

O vaso


A vida em nossa casa sempre foi tranquila e agradável. Nunca tivemos problemas sérios com doenças, apenas algumas gripes passageiras ou pequenos arranhões conseguidos nas brincadeiras.

Porém, eu observava pessoas passarem por sofrimentos profundos. Muitas dúvidas a esse respeito estavam em minha cabeça e procurei trocar ideias com mamãe.

Ela estava pregando botões em uma camisa quando entrei na sala e disse:

- Sabe, mamãe, tenho pensado muito na Lucinha. Ela nasceu com aquele defeito na perna. Tem passado por muitas cirurgias e longos períodos na cama, sem brincar. Por que ela não nasceu perfeita como eu? Isto não é injusto?

Mamãe colocou a camisa sobre a mesa, pegou-me pela mão e pediu que a acompanhasse até a varanda onde estavam alguns de seus vasos.

- Veja - disse ela - que a planta desse vaso cresceu em um lugar muito sombrio, recebendo pouca luz. Observe que seu caule está bem fino, muito alongado, podendo se dobrar e quebrar com facilidade. Suas folhas estão miúdas e amareladas. É uma planta muito frágil, pois faltou luz.

"Agora venha ver este outro vaso que está recebendo luz por todos os lados. Como está a planta?"

- Ora, mamãe, é a mais bonita de todas! O caule é forte e resistente e as folhas são grandes, bem verdes e viçosas.

- Você sabe, filha, que a semente traz guardado dentro de si aquilo que a planta será. Ao sair de dentro da terra, ela começa a mostrar o tipo de planta que é. O sol a faz forte e a falta de luz a torna frágil.

" O mesmo acontece conosco. Quando nascemos, trazemos gravado dentro de nós tudo o que fizemos no passado. Pode ter acontecido que em outras existências tenhamos usado mal os bens que Deus nos deu, prejudicando outras pessoas. Assim, lesamos a nossa consciência com o erro praticado.

" Sabemos que a Justiça Divina é perfeita. Deus, em sua infinita bondade, permite que a ferida que está em nossa consciência seja curada. O sofrimento é um dos remédios para esta cura. Perceba que o sofrimento é uma benção em nosso caminho; é a luz que fortalece a criatura, como a luz fortalece a planta.

" A causa do sofrimento de Lucinha não está na vida presente, e, sim, em outras vidas que ela já viveu, pois já nasceu com o defeito na perna. O sofrimento é a luz que ela está recebendo para crescer espiritualmente e curar a ferida de sua alma. Cabe a nós ajudá-la muito, confortando-a, dedicando-lhe muito amor. Assim, ela vai se sentindo encorajada em vencer esta prova difícil, e nós vamos colocando em prática a sublime lição da caridade que Jesus nos ensinou".

Fiquei satisfeita com a explicação de mamãe.

Deus não é injusto.

Cada um de nós é responsável por aquilo que faz, e recolhe sempre as consequências do que fizer de bom ou de ruim.

(De "A vida ensinou", de Maria Ida Bachega Bolçone)

sábado, 20 de fevereiro de 2010

O QUE MAIS SOFREMOS


O que mais sofremos no mundo –

Não é a dificuldade. É o desânimo em superá-la.

Não é a provação. É o desespero diante do sofrimento.

Não é a doença. É o pavor de recebê-la.

Não é o parente infeliz. É a mágoa de tê-lo na equipe familiar.

Não é o fracasso. É a teimosia de não reconhecer os próprios erros.

Não é a ingratidão. É a incapacidade de amar sem egoísmo.

Não é a própria pequenez. É a revolta contra a superioridade dos outros.

Não é a injúria. É o orgulho ferido.

Não é a tentação. É a volúpia de experimentar-lhe os alvitres.

Não é a velhice do corpo. É a paixão pelas aparências.

Como é fácil de perceber, na solução de qualquer problema, o pior problema é a carga de aflições que criamos, desenvolvemos e sustentamos contra nós.

Espírito: ALBINO TEIXEIRA

Médium: Francisco Cândido Xavier

Livro: "Passos da Vida" - EDIÇÃO IDE

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

O homem e o boi



Um anjo de longínquo sistema, interessado em conhecer os variados aspectos e graus da razão na inteligência Universal, pousou num campo terrestre e, surpreso ante a paisagem, aí encontrou um homem e um boi. Admirou as flores silvestres, fixou os horizontes coloridos de sol e rejubilou-se com a passagem do vento brando, rendendo graças ao Supremo Senhor. Como não dispunha, todavia, de mais larga parcela de tempo, passou à observação direta dos seres que povoavam o solo, aferindo o progresso do entendimento no orbe que visitava. Examinou as pupilas do homem e descobriu a inquietação da maldade. Sondou os olhos do boi e encontrou calma e paz. Usando o critério que lhe era particular, conclui de si para consigo que o boi era superior ao homem. Consolidou a impressão quando, para experimentar, pediu mentalmente aos dois trabalhassem em silêncio. O animal respondeu com perfeição, movimentando-se, humilde, mas o companheiro bípede gritou, espetacularmente, proferindo nomes feios que fariam corar uma pedra. Um tanto alarmado, o anjo recomendou paciência. O educado bisneto da selva continuou trabalhando, imperturbável e tolerante. Todavia, o irrequieto descendente de Adão estalou um chicote, ferindo as ancas do colaborador de quatro patas. Acabrunhado agora, diante da cena triste, o sublime embaixador pediu atitudes de sacrifício. O servo bovino obedeceu, sem qualquer relutância, revelando indiscutível interesse em ser útil, distraído das próprias chagas. O administrador humano, contudo, redobrou a crueldade, recorrendo ao ferrão para dilacerar lhe, ainda mais, a carne sanguinolenta... Sensibilizadíssimo, o fiscal celeste anotou o que supôs conveniente aos fins que o traziam e afastou-se, preocupado. Não atravessara grande distância e encontrou uma vaca em laço forte, com outro homem a ordenhá-la. Sob impressão indefinível, emitiu apelos à renúncia. A mãe bovina atendeu com resignação heroica, prosseguindo firme na posição de quem sabia sacrificar-se, mas o ordenhador, antes que o emissário de cima os analisasse, de perto, porque certa mosca lhe fustigava o nariz, esbofeteou o úbere da vaca, desabafando-se. O funcionário dos altos céus, compadecido, acariciou a vítima que se movimentou alguns centímetros, agradavelmente sensibilizada. O tratador, porém, berrou desvairado, caluniando-a... - Queres escoicear-me, não é? - gritou, diabólico. Ergueu-se lesto, deu alguns passos, sacou de bengala rústica e esbordoou-lhe os chifres. Emocionado, o anjo vivificou as energias da vaca, aplicando o seu magnetismo divino, rogou para ela as bênçãos do Altíssimo, empregou forças de coação no agressor, conferindo-lhe salutar dor de cabeça, efetuou os registros que desejava e retirou-se. Prestes a desferir voo, firmamento a fora, encontrou um gênio sublime da hierarquia terrena. Cumprimentaram-se, fraternos, e o fiscal divino comentou a beleza da paisagem. Não ocultou, porém, a surpresa de que se possuía. Relacionou os objetivos que o obrigaram a parar alguns minutos na Terra e rematou para o irmão na pureza e na virtude: - Estou satisfeito com a elevação sentimental das criaturas superiores do Planeta. Cultivam a generosidade, renunciam no momento oportuno, trabalham sem lamentações e, sobretudo, auxiliam, com invulgar serenidade, os inferiores. O anjo da ordem terrestre silenciou, espantado por ouvir tão rasgado elogio aos homens. O outro, no entanto, prosseguiu: - Tive ocasião de presenciar comovedores testemunhos. Pesa-me confessá-lo, porém: não posso concordar com a posição dos seres mais nobres da terra, que se movimentam ainda sobre quatro pés, quando certo animal feroz, que os acompanha, agressivo, já detém a leveza do bípede. Naturalmente, sabe o Altíssimo o motivo pelo qual individualidades tão distintas aqui se encontram, unidas para a evolução em comum... Tenho, contudo, o propósito de apresentar um relatório minucioso às autoridades divinas, a fim de modificarmos o quadro reinante. Assinalando-lhe os conceitos, o companheiro solicitou explicações mais claras. O anjo estrangeiro convidou-o a verificações diretas. O protetor da Terra, desapontado, esclareceu, por sua vez, ser diversa a situação: o bípede é na crosta Planetária o Rei da inteligência, guardando consigo a láurea da compreensão, sendo o boi simples candidato ao raciocínio, absolutamente entregue ao livre-arbítrio do controlador do solo. Acentuou que, não obstante operoso e humilde, o cooperador bovino gastava a existência servindo para o bem, e acabava dando os costados no matadouro, para que os homens lhe comessem as vísceras... O forasteiro dos céus mais altos, sem dissimular o assombro, considerou:
- Então, o problema é muito pior... Pensou, pensou e aduziu:
- Jamais encontrei um planeta onde a razão estivesse tão degradada. Despediu-se do colega, preparou o afastamento definitivo sem mais delonga e concluiu: - Apresentarei relatório diferente. Mas ainda não se sabe se o anjo foi pedir medidas ao Trono Eterno para que os bois levantem as patas dianteiras, de modo a copiarem o passo de um herói humano, ou foi rogar providências aos Poderes Celestiais a fim de que os homens desçam as mãos e andem de quatro, à maneira dos bois...

(De "Luz acima", de Francisco Cândido Xavier - Irmão X)

domingo, 14 de fevereiro de 2010

Carnaval


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CARNAVAL

Áureo

Chegou a hora de um novo carnaval, mas este que vai começar agora não será como os outros. Desta vez, a festa da carne já não será tão caracterizada pelo disfarce das fantasias, com as quais as potências malignas sempre se esmeraram em camuflar e colorir os seus mais temíveis propósitos. As máscaras não são mais tão necessárias, nem mesmo desejáveis. Agora a nudez é a norma, com toda a sua agressiva desfaçatez. Não apenas a nudez de corpos frenéticos, a nudez da carne soberana e sem freios, mas sobretudo a nudez dos pensamentos que se descobrem, acintosamente, sem qualquer pudor, na ostensiva clareza das pretensões mais abjetas.

Neste fim de tempos, com a permissão divina, para a necessária triagem, que vai finalmente separar o joio do trigo, o mal dispensa as velhas armaduras e não teme mostrar-se na completa arrogância da sua fria crueza.

O crime não escolhe mais nem hora, nem meios, nem ambientes, nem vitimas.

A festa que se prenuncia é de carne, mas de carne sangrenta, sofrida e humilhada, de carne em processo de franca decomposição, ainda antes do processo da morte física.

A violência já armou o seu cenário no grande palco do mundo e a função não tardará a começar, Nos bastidores da realidade, já começou, e dentro em pouco a cortina das conveniências será rasgada, para que o drama vingue, infrene, em toda a sua arrasadora plenitude.

A subida dos infernos é como o levantar-se do lodo dos abismos, que tolda todas as águas, antes de cristalina aparência. Não se poderia, no entanto, purificar verdadeiramente os mananciais, sem que o lodo do fundo fosse antes trazido à superfície, para ser então coado.

Os espíritos prevenidos, que tem olhos de ver e ouvidos de ouvir, agirão como aquelas criaturas prudentes a que os Evangelhos se referem, ao invés de deixar-se arrastar pela correnteza das aluviões sem freio e sem rumo.

Depois das orgias e dos excessos, das violências e dos enganosos triunfos da força humana, virão as lágrimas redentoras e as penas merecidas, mas a noite se escoará, com todas as suas amarguras, nas claridades sublimes e definitivas da Nova Era Cristã.

É bem de ver que, para os discípulos leais a Jesus, as horas que se aproximem, tão ansiosamente aguardadas pelos gozadores e pelos velhacos, não serão de festa, mas de vigília, de jejum e de oração, de testemunhos de renúncia e de coragem.

Isso será, porém, altamente compensador, porque é vindo o momento anunciado em que os habitantes dos "vales" devem fugir para os "montes".

Em face da turbulência que se avizinha, nós vos almejamos muita paz ao coração. E enquanto os tambores, os clarins, as balas e os impropérios estiverem poluindo o ar da Terra, que haja no íntimo de nossas almas, a ecoar como música celeste, o som excelso das promessas de amor de Nosso pai.

NO REINO DE MOMO A CARNE NADA VALE
(14.02.09)


Sem querer ditar regras de falsos purismos e cansativos sermões encharcados de ladainhas, não nos furtamos de comentar sobre mais um período momesco que se aproxima. Tradicionalmente, são três dias que antecedem à Quaresma [período de quarenta dias, que vai da Quarta-Feira de "Cinzas" até o Domingo de Páscoa, consoante preceito catolicista] que instalou-se com vigor descomunal em todo o País. Muitos crêem que as "cinzas" são o que sobra do "enterro da tristeza", em face dos três dias de "alegria", ou, ainda, tudo que sobrou do tal espetáculo. Em verdade, a única cinza que o cristão deveria encontrar seria aquela que representa a cremação do seu passado de erros, pulverizado por um presente de acertos e esforços no sentido do progresso real.

Carnaval é um termo oriundo de uma festa romana e egípcia em homenagem ao Deus Saturno, quando carros alegóricos (a cavalo) desfilavam com homens e mulheres. Eram os carrum navalis, daí a origem da palavra "carnaval". Há quem interprete a palavra conforme as primeiras sílabas das palavras da frase: carne nada vale. Como festa popular, poderia ser um acontecimento cultural plausível, não fossem os excessos cometidos em nome da alegria. Quando se pretende alcançar essa alegria, através do prazer desregrado e dos excessos de toda ordem, o resultado é a insatisfação íntima, o vazio interior provocado pelo desequilíbrio moral e espiritual. Portanto, não fossem os exageros, o Carnaval, como festa de integração sócio-racial, poderia tornar um acontecimento relativamente aceitável, até porque, não admitir isso é incorrer em erro de intolerância. Porém, merece reflexão a advertência de André Luiz: "Afastar-se de festas lamentáveis, como aquelas que assinalam a passagem do CARNAVAL, inclusive as que se destaquem pelos excessos de gula, desregramento ou manifestações exteriores espetaculares. A verdadeira alegria não foge da temperança." (1) (destacamos)

É o momento em que o espírito humano pode exteriorizar o que há de mais profundo, de mais primitivo em si mesmo. A ebulição momesca é evento que carrega, em si, a carga da barbárie e do primitivismo que ainda reina entre nós, os encarnados, marcados pelas paixões do prazer violento. Costuma ser chamado de folia que vem do francês folle que significa loucura ou extravagância.

Já "foi um dia a comemoração dos povos guerreiros, festejando vitórias; foi reverência coletiva ao deus Dionísio, na Grécia clássica, quando a festa se chamava bacanalia; na velha Roma dos césares, fortemente marcada pelo aspecto pagão, chamou-se saturnalia e, nessas ocasiões, imolava-se uma vítima humana." (2) Nos dias conturbados de hoje, sabe-se que "(...) de cada dez casais que caem juntos na folia, sete terminam a noite brigados (cenas de ciúme, etc.); que, desses mesmos dez casais, posteriormente, seis se transformam em adultério, cabendo uma média de três para os homens e três para as mulheres (por exemplo); que, de cada dez pessoas (homens e mulheres, no caso) no carnaval, pelo menos sete se submetem espontaneamente a coisas que normalmente abominam no seu dia a dia, como álcool, entorpecente, etc. Dizem, ainda, que tudo isso decorre do êxtase atingido na Grande Festa, quando o símbolo da liberdade, da igualdade, mas, também, da orgia e depravação, somadas ao abuso do álcool, levam as pessoas a se comportarem fora do seu normal (...)" (3) O Espírito Emmanuel adverte: "Ao lado dos mascarados da pseudo-alegria, passam os leprosos, os cegos, as crianças abandonadas, as mães aflitas e sofredoras. (...) Enquanto há miseráveis que estendem as mãos súplices, cheios de necessidades e de fome, sobram as fartas contribuições para que os salões se enfeitem."(4)

Quando nos damos aos exageros de toda sorte, as influências perniciosas se intensificam e, muitas vezes, deixamo-nos dominar por espíritos maléficos, ocasionando os infelizes fatos de todos os tipos de violências. Nesse cenário, os obsessores "influenciam, durante o Carnaval, os incautos que se deixam arrastar pelas paixões de Momo, impelindo-os a excessos lamentáveis, comuns por essa época do ano, e através dos quais eles próprios, os Espíritos, se locupletam de todos os gozas e desmandos materiais, valendo-se, para tanto, das vibrações viciadas e contaminadas de impurezas dos mesmos adeptos de Momo, aos quais se agarram." (5)

Portanto, além da companhia de encarnados, vincula-se a nós uma inumerável legião de seres invisíveis, recebendo deles boas e más influências a depender da faixa de sintonia em que nos encontremos. As tendências ao transtorno comportamental de cada um, e a correspondente impotência ou apatia em vencê-las, são qual imã que atrai os espíritos desequilibrados e fomentadores do descaso à dignidade humana, que, em suma, não existiriam se vivêssemos no firme propósito de educar as paixões instintivas que nos animalizam. Diante disso, Emmanuel ratifica a admoestação: "É lamentável que na época atual, quando os conhecimentos novos felicitam a mentalidade humana, fornecendo-lhes a chave maravilhosa dos seus elevados destinos, descerrando- lhes as belezas e os objetivos sagrados da Vida, se verifiquem excessos dessa natureza [CARNAVAL] entre as sociedades que se pavoneiam com os títulos da civilização." (6) (destaque nosso)

Será válido fechar as portas dos centros espíritas nos dias de Carnaval, ou mudar o procedimento das reuniões? Existem alguns centros que fecham suas portas nos feriados do carnaval por vários motivos não razoáveis. Repensemos: uma pessoa com necessidades imediatas de atendimento fraterno, ou dos recursos espirituais urgentes em caso de obsessão, seria fraterno fazê-la esperar para ser atendida após as "cinzas", uma vez ocorrendo essa infelicidade em dia de feriado momesco? Convém lembrar que Jesus curava aos sábados, mesmo que o costume da época não permitisse. Por isso mesmo, Ele disse: "Por que não posso curar aos sábados se meu Pai trabalha sempre?". (7)

Os foliões inveterados alegam que o carnaval é um extravasador de tensões, liberando as energias... Todavia, no período carnavalesco, não encontramos diminuídas as taxas de agressividade e as neuroses. O que se vê é um verdadeiro somatório da violência urbana e de infelicidade familiar. As estatísticas registram como consequências do "reinado de Momo", por exemplo, gravidezes indesejadas e a consequente proliferação de abortos provocados, acidentes automobilísticos, aumento da criminalidade, estupros, suicídios, incremento do uso de diversas substâncias estupefacientes e de alcoólicos, assim como o surgimento de novos viciados, disseminação das doenças sexualmente transmissíveis (inclusive a AIDS) e as ulcerações morais, marcando, profundamente, certas almas desavisadas e imprevidentes.

Os três dias de folia, assim, poderão se transformar em três séculos de penosas reparações. É bom pensarmos um pouco nisto: o que o carnaval traz ao nosso Espírito? Alegria? Divertimento? Cultura? Será que o apelo de Momo faz de nós homens ou mulheres melhores? Edifica o nosso Espírito? Muitos espíritas, ingenuamente, julgam que a participação nas festas de Carnaval, tão do agrado dos brasileiros, nenhum mal acarreta à nossa integridade fisiopsicoespiritua l. No entanto, por detrás da aparente alegria e transitória felicidade, revela-se o verdadeiro atraso espiritual em que ainda vivemos, pela explosão de animalidade que ainda impera em nosso ser. É importante lembrá-los de que há muitas outras formas de diversão, recreação ou entretenimento disponíveis ao homem contemporâneo, alguns verdadeiros meios de alegria salutar e aprimoramento (individual e coletivo), para nossa escolha.

Não vemos, por fim, outro caminho que não seja o da "abstinência sincera dos folguedos", do controle das sensações e dos instintos, da canalização das energias, empregando o tempo de feriado do carnaval para a descoberta de si mesmo, o entrosamento com os familiares, o aprendizado através de livros e filmes instrutivos ou pela frequência a reuniões espíritas, eventos educacionais, culturais ou mesmo o descanso, já que o ritmo frenético do dia a dia exige, cada vez mais, preparo e estrutura físico-psicoló gica para os embates pela sobrevivência.

Em síntese, se o Carnaval é uma ameaça ao bem-estar social, nós espíritas temos muito a ver com ele, porque uma das tarefas primordiais de nossa Doutrina é a de lutar por dispositivos de preservação dos valores mais dignos da Sociedade, sem que se violente, obviamente, o direito soberano do livre-arbítrio de cada um, mas não nos esquecendo que no carnaval sempre ocorre obsessão (espiritual) como resultado da invigilância e dos desvios morais. Somente poderemos garantir a vitória do Espírito sobre a matéria, se fortalecermos a nossa fé, renovando-nos mentalmente, praticando o bem nos moldes dos códigos evangélicos, propostos por Jesus Cristo, e não esquecendo os divinos conselhos do Mestre: "Vigiai e orai, para que não entreis em tentação; o espírito na verdade está pronto, mas a carne é fraca''(8)



FONTES:
(1) Vieira, Waldo. Conduta Espírita, ditado pelo Espirito André Luiz, Rio de Janeiro: Ed FEB, 2001, cap.37 "Perante As Fórmulas Sociais"
(2) Artigo publicado na Revista Visão Espírita - Março de 2000
(3) São José Carlos Augusto. Carnaval: Grande Festa...De enganos! , Artigo publicado na Revista Reformador/FEB- Fev 1983
(4) Xavier , Francisco Cândido. Sobre o Carnaval, mensagem ditada pelo Espírito Emmanuel, fonte: Revista Reformador, Publicação da FEB fevereiro/1987
(5) Pereira, Ivone. Devassando o Invisível, Rio de Janeiro: cap. V, edição da FEB, 1998
(6) idem
(7) João 5:17.
(8) Mt 26:41

sábado, 13 de fevereiro de 2010

O centro espírita


O Centro Espírita é uma célula viva e pulsante onde se forjam caracteres, sob a ação enérgica do bem e do conhecimento.

Mais do que uma sociedade de criaturas encarnadas, é um núcleo onde se mesclam os seres desprovidos da carne que faculta a evolução no programa de amor e trabalho.

Escola - torna-se educandário, graças ao qual a instrução alarga-se, desde a geração de fenômenos educativos de hábitos, para produzir discípulos conscientes da própria responsabilidade, até cidadãos capacitados para a vida.

Oficina - onde se trabalham os sentimentos e se modelam os valores éticos, aos camartelos do sofrimento e da renovação, nas diretrizes que a caridade propõe como método depurativo e elevado.

Hospital - enseja as mais exclusivas terapêuticas para alcançar as causas geradoras do sofrimento, apresentando as ramificações das enfermidades e as expressões das dores morais, que devem ser transformadas em estado de saúde lenificadora.

Santuário - que se converte em altar de holocausto dos valores morais negativos e de soerguimento das virtudes, em intercâmbio saudável com o pensamento cósmico, mediante a oração, a concentração e a atividade libertadora.

Na sua poli-Valência, o Centro Espírita enseja o intercâmbio continuado de criaturas de um plano com o outro e, na mesma faixa de vibrações, estimula o desenvolvimento das mentes equilibradas construtoras da sociedade feliz do futuro.

Allan Kardec, fundando a Sociedade Espírita de Paris, estabeleceu ali, na casa-máter do movimento nascente, o Centro ideal, para onde convergiam as aspirações, as necessidades, os problemas e objetivos de ordem espírita, a fim de serem examinados e bem conduzidos.

O Centro Espírita é o núcleo social onde se caldeiam os sentimentos, auxiliando os seus membros a tolerarem-se reciprocamente, amando-se, sem o que, dificilmente, os que o constituem, estariam em condições de anelar por uma sociedade perfeita, caso fracassem no pequeno grupo onde se aglutinam para o bem.

O Centro Espírita é, portanto, a célula ideal para plasmar a comunidade dos homens felizes de amanhã, oferecendo-lhes o contributo do respeito e da fraternidade, da atenção e do bem. Honrar-lhe as estruturas doutrinárias com a presença e a ação, pelo menos duas vezes por semana, é dever que todo espírita se deve impor, a benefício da divulgação da Doutrina que ama e que o liberta da ignorância.

(De "Suave luz nas sombras", de Divaldo Pereira Franco, pelo Espírito João Cléofas)

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Produções mediúnicas


"...É preciso - como a respeito de todas as produções mediúnicas - jamais deixar de submeter os seus resultados à inspeção de nosso critério e raciocínio.

Não é a credulidade menor mal que o ceticismo intransigente. O discernimento e uma certa educação científica são necessários para determinar a verdadeira origem e o valor das comunicações, para fazer a distinção entre as diferentes causas que intervêm no fenômeno.
A autenticidade das mensagens é, às vezes, difícil de estabelecer-se.

O abuso de nomes célebres, de personalidades veneradas entre os homens é freqüentemente praticado e torna-se um elemento de dúvida e de confusão para os observadores. Certas produções, de deplorável banalidade, num estilo incorretíssimo, subscritas por nomes ilustres, despertam a desconfiança e levam muitas pessoas a considerar o Espiritismo uma grosseira mistificação. Para o analista calmo e imparcial esses abusos demonstram simplesmente uma coisa: é que o autor do ditado nem sempre é o que diz ser. No mundo invisível, como entre nós, há Espíritos embusteiros, sempre prontos a apropriar-se de títulos ou merecimentos, a que nenhum direito possuem, com o fim de se imporem ao vulgo.

É, portanto, necessário, dar mais atenção ao próprio conteúdo das comunicações que ao nome que as subscreve. Pela obra se julga o operário. Os Espíritos superiores, para se fazerem reconhecer, em lugar dos nomes que usavam na Terra, adotam de bom grado, termos alegóricos.

Em regra, os nomes e títulos não têm no outro mundo a importância que lhes damos. Os julgamentos do Espaço não são os da Terra, e muitos nomes que fulguram na história humana se eclipsam na outra vida. As obras de dedicação, amor e caridade constituem lá valiosos e duradouros títulos. Os que as edificaram nem sempre hão deixado seus nomes na memória dos homens. Passaram obscuros, quase desconhecidos neste mundo, mas a lei divina consagrou sua existência e sua alma refulge com um brilho que muitos Espíritos reputados grandes entre nós, estão longe de possuir.

Há nas regiões inferiores do Espaço, como na Terra, Espíritos sofísticos que tratam de impingir suas concepções sob a capa de nomes pomposos. Neles, o erro se dissimula sob as formas austeras ou sedutoras, que iludem e são por isso ainda mais perigosas.

É principalmente em tais casos que se deve exercer o nosso discernimento. Não devemos adotar as opiniões de um Espírito, simplesmente porque se trata de um Espírito, mas, unicamente se nos parecerem justas e boas. Devemos discutir e averiguar as produções do Além com a mesma liberdade de apreciação com que julgamos as dos autores terrestres. O Espírito não é mais que um homem libertado de seu corpo carnal; com a morte não adquire a infalibilidade. O espaço que nos envolve é povoado de uma multidão invisível pouco evoluída. Acima dela, porém, há elevadas e nobres Inteligências, cujos ensinos nos devem ser preciosos. Podemos reconhecê-las pela sabedoria que as inspira, pela clareza e amplitude de suas apreciações".

(De "No invisível", de Léon Denis)

Compreendamos


"Sacrifícios, e ofertas, e holocaustos

e oblações pelo pecado não quiseste,

nem te agradaram". Paulo. (Hebreus,10:8)


O mundo antigo não compreendia as relações com o Altíssimo, senão através de suntuosas oferendas e pesados holocaustos.

Certos povos primitivos atingiram requintada extravagância religiosa, conduzindo sangue humano aos altares.

Tais manifestações infelizes vão-se atenuando no cadinho dos séculos; no entanto, ainda hoje se verificam lastimáveis pruridos de excentricidade, nos votos dessa natureza.

O Cristianismo operou completa renovação no atendimento das verdades divinas; contudo, ainda em suas fileiras costumam surgir absurdas promessas, que apenas favorecem a intromissão da ignorância e do vício.

A mais elevada concepção de Deus que podemos abrigar no santuário do espírito é aquela que Jesus nos apresentou, em no-lo revelando Pai amoroso e justo, à espera dos nossos testemunhos de compreensão e de amor.

Na própria Crosta da Terra, qualquer chefe de família, consciencioso e reto, não deseja os filhos em constante movimentação de ofertas inúteis, no propósito de arrefecer-lhe a vigilância afetuosa . Se tais iniciativas não agradam aos progenitores humanos, caprichosos e falíveis, como atribuir semelhante falha ao Todo-Misericordioso, no pressuposto de conquistar a benemerência celeste?

É indispensável trabalhar contra o criminoso engano.

A felicidade real somente é possível no lar cristão do mundo, quando os seus componentes cumprem as obrigações que lhes competem, ainda mesmo ao preço de heróicas decisões. Com o Nosso Pai Celestial, o programa não é diferente, porque o Senhor Supremo não nos pede sacrifícios e lágrimas e, sim, ânimo sereno para aceitar-lhe a vontade sublime, colocando-a em prática.

(De "Pão Nosso", de Francisco Cândido Xavier, pelo Espírito Emmanuel)

Compaixão



Quando te ergueres em prece ao coração augusto e misericordioso do Pai Celestial, não olvides que ao redor de teus passos, ecoam as súplicas de milhões de seres implorando-te compaixão.

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Anota-lhes o tom de expectativa e de angústia e não desdenhes auxiliar.

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Aprende a guardar na acústica da própria alma a essência divina do amor infatigável para que a paciência e o sorriso te ensinem a recolher, sem alarde e sem queixa, todos os impactos do alheio sofrimento.

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Veste, cada dia, a túnica do entendimento e encontrarás, por toda a parte, a ignorância e a penúria rogando-te amparo e compreensão.

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Observarás a dor de mil faces, estendendo-te as mãos, à procura da migalha de fraternidade e carinho.

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Aqui, mascara-se na forma de delinqüência naqueles que não tiveram as tuas oportunidades de educação; adiante, surge na roupa espinhosa do desespero a que se acolhem os companheiros em provas amargas.

Ali, aparece-te com a fantasia da ilusão em todos os que não se apercebem da sua condição de usufrutuários da Terra, e, mais além destaca-se nas chagas de aflição dos que despertam sob as responsabilidades do ouro e do poder.

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Seja com quem for e seja onde for, compadece-te e ampara sempre.

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Observa que a própria Natureza, em todos os lugares, é um apelo vivo à tua misericórdia para que a vida alcance os fins a que se destina.

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A terra seca roga-te a bênção da água refrescante para que te possa doar os talentos do pão e da alegria; a árvore clama por teu devotamento a fim de produzir quanto deve em teu próprio benefício e o fruto verde espera por teu carinho, para não perecer em sua expectativa de maturação.

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Age e caminha, trabalha e serve, inspirando-te na compaixão que deves a todas as criaturas.

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Perdoa mil vezes antes de reprovar uma só e penetrarás os altos segredos do bem.

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Recordemos em quantas ocasiões necessitamos da compaixão do próximo para sanar os nossos erros e fazendo pelo bem dos outros aquilo que desejamos dos outros na preservação de nossa própria felicidade, avançaremos para a vanguarda de luz sob o amparo de Deus, cuja Infinita Bondade, encerra em nosso favor todas as bênçãos da compaixão imperecível.

(De "Viajor", de Francisco Cândido Xavier, pelo Espírito Emmanuel)

Um Sublime Peregrino

Um Sublime Peregrino