Um Sublime Peregrino

"É indispensável manter o Espiritismo, qual foi entregue pelos Mensageiros Divinos a Allan Kardec, sem compromissos políticos, sem profissionalismo religioso, sem personalismos deprimentes, sem pruridos de conquista a poderes terrestres transitórios." Bezerra de Menezes (Mensagem "Unificação", psicografia de Francisco Cândido Xavier - Reformador, agosto 2001)

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Artigo- Chico Xavier

Primeira foto de Chico Xavier publicada em

reportagem de Clementino Alencar em 1/5/1935

Fonte: Notáveis reportagens com Chico Xavier, Ide, Araras, 2002

(Ismael Gobbo)

CHICO XAVIER NA GRANDE MIDIA

OS PRINCIPAIS MOMENTOS

Ismael Gobbo igobi@uol.com.br

Em meio às merecidas homenagens que Chico Xavier vem recebendo, pela comemoração do seu centenário de nascimento, vale a pena relembrar alguns dos seus momentos mais marcantes junto à imprensa. A maioria deles foi de alegria, consideração e respeito, tratamentos que Chico sempre mereceu. Outros, bem pontuais, trouxeram alguns dissabores para o humilde seareiro de Jesus que sempre, na alegria ou na dor, soube dar testemunho de fé e de confiança na vitória do Bem.

A estréia de Chico Xavier na mídia leiga ocorreu em 1928, ano seguinte ao do inicio de suas atividades mediúnicas de psicografia, ocorrida na noite de 8 de julho de 1927, na pequenina e bucólica Pedro Leopoldo, nas proximidades de Belo Horizonte. Chico tinha 18 anos de idade. As primeiras mensagens foram publicadas em O Jornal, do Rio de Janeiro, e no Almanaque, de Portugal.

Em 1932 foi lançado o livro Parnaso do Além-Túmulo, o primeiro da extensa bibliografia mediúnica de Chico. A obra, na versão atual, bem ampliada, é uma coletânea de poesias de famosos poetas brasileiros e portugueses já falecidos. O burburinho foi grande entre literatos respeitáveis que buscavam traçar um paralelo entre as poesias do Parnaso com as que seus autores tinham produzido em vida. Algumas críticas atribuíam plágios à obra, mesmo sabendo que Chico não tinha ido além do ensino do curso primário. Não faltaram também reconhecimentos como os de Humberto de Campos, pelas páginas do Diário Carioca, onde o festejado cronista encontrou identidade nas poesias de Casimiro, Castro Alves, Guerra Junqueiro, Antero de Quental e Augusto dos Anjos. Com críticas ou elogios Chico ganhou notoriedade a ponto de transpor os portais de academias.

Em 1935, Chico Xavier começa a receber ditados do espírito Humberto de Campos, falecido em 5 de dezembro de 1934. A notícia correu célere já que o escritor era um dos mais conhecidos da época. O jornal O Globo, do Rio, resolve então apurar e envia para Pedro Leopoldo o grande jornalista Clementino de Alencar. Isento e duro, mas sincero, Clementino promoveu um verdadeiro “inquérito” a respeito da vida e da obra de Chico Xavier, permanecendo na cidade de abril a junho daquele ano.

As reportagens intituladas “Mensagens de Além-Túmulo!”, sérias e bem produzidas, começaram a circular na edição de 1º. de maio de 1935, e, daí em diante, publicadas quase diariamente com destaque e interessantes ilustrações. O trabalho, profundo e respeitoso de Clementino de Alencar, valeu como atestado de idoneidade para Chico Xavier. O jornalista acabou se dando por convencido da seriedade de seu entrevistado e do trabalho mediúnico desenvolvido.

O ano de 1944 foi difícil para Chico, talvez o mais acerbo com a mídia ao longo dos anos. Enfrentou o processo movido pela família do escritor Humberto de Campos e a reportagem desairosa produzida pelo repórter David Nasser na revista O Cruzeiro.

No processo, a viúva de Humberto de Campos, em Ação Declaratória, pleiteava reconhecimento ou não de autoria das cinco obras assinadas pelo marido falecido, que estavam em circulação. Dona Catarina Vergolino de Campos queria explicações.

O móvel principal, pelo que se depreendia, era o pleito de direitos autorais ou mesmo ingresso de processo criminal contra Chico e diretores da FEB, caso fosse proclamada alguma falsidade na Declaratória.

Concomitante ao processo, O Cruzeiro, com o claro intuito de denegrir Chico e o espiritismo, envia para Minas Gerais a sua dupla famosa, David Nasser e o fotógrafo Jean Manzon. Aterrissam em Belo Horizonte, em pleno sábado e, por estradas poeirentas, ganham a Fazenda Modelo, em Pedro Leopolodo, onde Chico trabalhava subordinado ao Dr. Rômulo Joviano. A expectativa de ambos era concluir rapidamente o trabalho, porém, são orientados por Rômulo a procurar Chico, no Centro Espírita Luiz Gonzaga, na sexta-feira seguinte.

Dispostos a romper o cerco, a dupla resolve montar uma farsa dirigindo-se diretamente para a casa de Chico, apresentando-se como repórteres americanos.

Depois de entrevistarem o médium e fotografá-lo nas mais diferentes situações, saíram rapidamente da cidade temerosos de serem descobertos na “armação”, principalmente por Dr. Rômulo que os atendera. Achavam mesmo que tinham enganado o médium e os espíritos que o secundavam. Suas identidades reais – imaginavam – não haviam sido descobertas.

No Rio de Janeiro, ao lerem as dedicatórias nos livros com que Chico os presenteara, constataram em meio às palavras seus nomes e a chancela do espírito Emmanuel, o guia espiritual do médium.

Mesmo assim, a reportagem tendenciosa foi publicada no dia 12 de agosto de 1944, com fotos ridículas e legendas que tinham por fito aviltar a figura do entrevistado.

Chico temia pelo pior. Consta que num desses momentos de tristeza o espírito Emmanuel o “consola” dizendo: “O Cristo foi para a cruz e você para o Cruzeiro!”...

Dias depois do sofrimento atroz, em 23 de agosto de 1944, o Dr. João Frederico Mourão Russell, juiz de Direito em exercício na 8º Vara Cível do antigo Distrito Federal, julga o processo e decide ser a viúva D. Catarina carecedora da ação proposta, sentença também mantida por instância superior na apelação interposta.

Após esses episódios Chico Xavier se manteve arredio com a mídia e dela afastado por muito tempo.

O retorno à imprensa se deu em 1968 com sua entronização no mundo da televisão através do repórter Saulo Gomes que, após muitas démarches e conquistar a confiança de Chico, conseguiu produzir, em Uberaba, e levar ao ar pela extinta TV Tupi de São Paulo, sua primeira entrevista com o médium mineiro.

A partir desse momento histórico sucederam-se os dois “Pinga Fogo”, na mesma TV, no ano de 1971, que Saulo Gomes ajudou a organizar. O resultado foi o que o mundo inteiro conhece: Chico Xavier tornou-se uma referência, um ícone, uma celebridade, nunca mais deixou de ser lido, ouvido e visto nos programas de rádio, de televisão e nos mais importantes jornais e revistas do Brasil e do Exterior.

Essas breves notas têm por escopo convidar os leitores a se aprofundarem no tema, difundido em livros, jornais, revistas, teses acadêmicas e na Internet.

Recomendamos:

Parnaso do Além Túmulo, FEB; Notáveis reportagens com Chico Xavier. Araras: IDE, 2002; Pinga Fogo, Saulo Gomes, Intervidas, 2010; As vidas de Chico Xavier, Marcel Souto Maior, Editora Planeta; Chico Xavier, repórter do Além, http://www.memoriaviva.com.br/ocruzeiro/12081944/chico.htm; David Nasser, http://pt.wikipedia.org/wiki/David_Nasser

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