Em interessante diálogo com os discípulos, perguntou-lhes Jesus:
– Quem dizem os homens ser o filho do Homem?
– Uns dizem que és João Batista; outros Elias e outros Jeremias ou algum dos profetas, que ressurgiu.
– Mas vós outros, quem dizeis que eu sou?
Simão Pedro adiantou-se: –Tu és o Cristo, o Filho do Deus Vivo.
Jesus o cumprimentou: – Bem-aventurado és tu, Simão, filho de Jonas, porque não foi a carne e o sangue quem to revelaram, mas meu Pai que está nos Céus…
Não obstante os prodígios operados e a beleza de seus princípios, o Mestre não seria aceito pelas lideranças judaicas. Esperavam alguém de espada na mão para elevar Israel ao domínio de todas as nações. Jamais admitiriam um Messias que exaltava a paz, não a guerra; o amor, não o ódio; o perdão, não a vingança, com uma mensagem universalista que pretendia irmanar todos os povos. Perfeitamente consciente disso, Jesus afirmou, em assombrosa profecia, antecipando o que enfrentaria:
– É necessário que o filho do Homem sofra muitas coisas, e seja rejeitado pelos anciãos, pelos principais sacerdotes e escribas, seja morto e ressuscite no terceiro dia.
Suas afirmativas causaram impacto. Simão Pedro, talvez o mais perplexo, reclamou: – Deus não o permita, Senhor! Isso de modo algum te acontecerá!
Jesus respondeu veemente: – Afasta-te de mim, Satanás! Tu és para mim pedra de tropeço, porque não cogitas das coisas de Deus, e, sim, das coisas dos homens.
O episódio reserva preciosa lição: Num momento, Simão Pedro situa Jesus como o mensageiro divino. Logo em seguida, perturbado com suas revelações, pretende contestá-lo.
As reações do apóstolo exprimem com fidelidade uma das grandes contradições da personalidade humana: a facilidade com que mudamos o ânimo, oscilando entre o Bem e o mal, a Luz e as sombras, a Virtude e o vício…
Não é preciso grande esforço de raciocínio para compreender esse desvio. Por que buscamos a luz, mas, frequentemente, estamos em trevas.
A causa é o egoísmo, que nos leva a desejar que tudo gire em torno de nossa personalidade, ao sabor de nossas conveniências, como se fôssemos o centro do Universo. Fazemos dele a medida da Vida. Imaginamos bom o que corresponde às nossas expectativas. Consideramos mau o que nos contraria. Por isso, os piores momentos estão sempre relacionados com nossas frustrações.
– Estou angustiado – o pai não me atende.
– Estou irritado – a esposa não me entende.
– Estou magoada – o marido esqueceu meu aniversário.
– Estou arrasado – o colega foi promovido na minha frente.
– Estou furioso – o chefe censurou meu desempenho.
– Estou descrente – o Senhor não ouve minhas orações.
Mesmo como discípulos de Jesus, estamos dispostos a seguir seus exemplos de fraternidade e amor, tolerância e bondade, desde que ninguém nos contrarie. Se isso acontece, imediatamente contrariamos o Evangelho. Daí a nossa instabilidade emocional, a dificuldade em sustentar a paz.
Por isso, o programa básico de nosso equilíbrio envolve um ajuste de nossos sentimentos. Muito mais importante do que exigir o atendimento de nossos caprichos é atender à vontade de Deus, expressa no Evangelho.
E se nos empolgamos pela grandeza de Jesus, manifestando disposição em segui-lo, não nos esqueçamos de o caminho do Cristo é de trabalho, renúncia e sacrifício de nossos interesses pessoais em favor do bem comum.
Caso contrário, à semelhança de Simão Pedro, facilmente seremos envolvidos pelas sombras, tropeçando em nossas próprias mazelas.
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