Irmão Raul Silva
“Jesus lhe disse: Apascenta as minhas ovelhas.”
EVANGELHO.
Os estudos de André Luiz e do seu companheiro Hilário, antigos médicos na Terra, na última encarnação, sob a supervisão do Assistente Áulus, verificam-se em vários grupos de atividade mediúnica, efetivando-se as instrutivas e fundamentais observações, de início, num grupo que
denominaremos, neste livro, de «grupo-básico».
Os elementos que lhe compõem a «equipagem mediúnica», em número de dez — quatro irmãs e seis irmãos — realizam aquilo que poderemos classificar de “mediunismo cristão», guardando, todos eles, no Íntimo, elevada noção de responsabilidade quanto à nobreza da tarefa que, em conjunto, levam a efeito.
Reproduzamos, aqui, os informes que, à guisa de apresentação, o Assistente Áulus forneceu a André Luiz e Hilário, em torno da personalidade do diretor, encarnado, dos trabalhos.
Detendo-se junto ao irmão Raul Silva, «que dirige o núcleo com sincera devoção à fraternidade», apresentou: «Correto no desempenho dos seus deveres e ardoroso na fé, consegue
equilibrar o grupo na onda de compreensão e boa vontade, que lhe é característica. Pelo amor com que se desincumbe da tarefa, é instrumento fiel dos benfeitores desencarnados, que lhe identificam na mente um espelho cristalino, retratando-lhes as instruções. » As palavras de apresentação do companheiro Raul, dirigente do grupo visitado, ensejam significativas apreciações no tocante a determinados requisitos que não podem estar ausentes daqueles que se dispõem a presidir trabalhos mediúnicos.
Afirma-se, de modo geral, que Espíritos menos esclarecidos costumam acabar com centros espíritas ou agrupamentos mediúnicos, provocando confusões, desanimando uns, ou espalhando a cizânia entre outros. Ninguém, em sã consciência, negará a evidência desse assédio. Efetivamente, os Espíritos têm desmanchado muitos centros e continuarão sem dúvida, por muito tempo ainda, obtendo êxito em sua obra desagregadora, até que se dê a tais atividades, em toda a sua plenitude, o sentido e a feição superiores por que se bate o Espiritismo Cristão, através das bem orientadas instituições. Enquanto a boa vontade e a correção, o estudo e o amor não forem, primacialmente, a mola real de todos os grupos mediúnicos, os Espíritos menos esclarecidos encontrarão sempre fácil acesso, eis que a prática mediúnica, sem Evangelho sentido e vivido, e sem Doutrina estudada e compreendida, constitui porta abert a à infiltração dos desencarnados ainda não felicitados pela luz do esclarecimento. Todavia, uma outra verdade se patenteia. E essa verdade precisa de ser focalizada, como advertência fraterna e em nome do imenso amor que consagramos à Doutrina Espírita. Há, também, os «desmanchadores», encarnados, de centros e de grupos espíritas!
São os dirigentes intratáveis e grosseiros, destituídos, completamente, daquele senso psicológico indispensável a quem dirige e, acima de tudo, sem possuir aquela abnegação pelo trabalho e aquela bondade sincera para com os companheiros que, na posição de médiuns, lhes compartilham as tarefas. Há muitos dirigentes de centros, ou mesmo simples cooperadores, que
ajudam os Espíritos inferiores a encerrar-lhes as atividades, ou, então, a estacionarem pelo tempo a fora, numa improdutividade que faz dó. São aqueles que nunca têm uma palavra amiga, de reconforto e estímulo para os médiuns.
São aqueles que não possuem elementares recursos de paciência para com os sofredores ou endurecidos, trazidos, pelo devotamento dos guias, ao serviço de consolação ou esclarecimento, segundo o caso. São aqueles que, hiperbólicos e insofreáveis no seu entusiasmo, não sabem dosar a palavra incentivadora ao medianeiro iniciante, estiolando, pelo elogio indiscriminado e inconseqüente, preciosas faculdades medianímicas. São aqueles que mais se parecem com «funcionários de cadastro» das organizações do mundo. Indagam, a todo o custo e sem qualquer objetivo edificante, o nome do comunicante, onde nasceu e em qual cartório será encontrado o seu registro de nascimento; em qual igreja poderá ser examinado o batistério, quanto ganhava no último emprego que ocupou na Terra e qual o número da Carteira Profissional; o nome da esposa do chefe da secção, qual a penúltima cidade onde viveu, nome da rua e a respectiva numeração, quem era o vizinho da direita e se o filho mais velho do vizinho da esquerda era aplicado
nos estudos e se tinha boa caligrafia...
São esses os “desmanchadores”, encarnados, que colaboram, por falta de compreensão dos deveres de fraternidade, preceituados no Evangelho, com os desencarnados que, poderosamente organizados no Espaço, assediam os núcleos espíritas de esclarecimento. Meditemos, todos, na admirável apresentação do dirigente Raul Silva. Analisemos, uma a uma, as referências em torno da sua pessoa. Devoção à fraternidade, correção no cumprimento dos deveres, pontualidade, fé ardorosa, compreensão, boa vontade, equilíbrio, prudência e muito amor no coração — eis as apreciáveis qualidades que exornam a sua personalidade. Simboliza, ele, o trabalhador sincero e bem intencionado. Representa, ele, o tipo ideal do dirigente de reuniões mediúnicas ou do
presidente de instituições espíritas. Tomemo-lo, pois, por modelo, afeiçoando, paulatina-mente, a nossa à sua conduta evangélica, e veremos, então, fora de qualquer dúvida, o progresso
cada vez maior dos núcleos que o Senhor Jesus nos confiou ao coração necessitado de luz e ascensão. Raul Silva é, como acentua o Assistente Áulus, pessoa comum. Não é um santo, nem um herói extraordinário, transitando, singularmente, pelo mundo.
Come, bebe e veste-se normalmente. Na Terra, nos labores de cada dia, nenhuma diferenciação apresenta das demais criaturas. Esforça-se, contudo, para melhorar-se , a fim de retratar», dos benfeitores espirituais, as instruções necessárias ao serviço de amparo aos companheiros
desencarnados trazidos à incorporação. É sincero e ama o seu trabalho. Cultiva a bondade com todos, não se enerva e nem se impacienta com aqueles que ainda não podem compreender os alevantados objetivos do Espiritismo Cristão. Procura amar a todos, pequenos e grandes, pobres e ricos, pretos e brancos, pela convicção de que não poderá dirigir ou orientar quaisquer
agrupamentos quem não tiver muito amor para ofertar, desinteressadamente,
inclusive com o sacrifício próprio, conforme depreendemos das três famosas perguntas de Jesus ao velho apóstolo galileu: Pedro, tu me amas ? E, ante a resposta afirmativa do venerando pescador, recomenda-lhe, jubiloso, com a alma inundada de esperança: “Se me amas, Pedro, apascenta as minhas ovelhas.”
Um grupo mediúnico é, em miniatura, um rebanho de ovelhas. Se o dirigente não amar bastante, a fim de «equilibrar o grupo na onda de compreensão e boa vontade», nunca poderá apascentá-las, nem conduzi-las ao aprisco da paz e do trabalho.
Deixá-las-á desamparadas, à mercê dos temporais e das surpresas do mundo das sombras.
Extraído do livro Estudando a mediunidade de Martins Peralva
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