Um Sublime Peregrino

"É indispensável manter o Espiritismo, qual foi entregue pelos Mensageiros Divinos a Allan Kardec, sem compromissos políticos, sem profissionalismo religioso, sem personalismos deprimentes, sem pruridos de conquista a poderes terrestres transitórios." Bezerra de Menezes (Mensagem "Unificação", psicografia de Francisco Cândido Xavier - Reformador, agosto 2001)

quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

O Médium de pés descalços




Esta feliz denominação, com referência a Chico Xavier, não me pertence. A primeira vez que a ouvi foi da boca deste companheiro, que me serve de instrumento às garatujas despretensiosas que insisto em escrever de uma Vida para outra.

Numa de suas visitas à minha casa, ele me deixou profundamente emocionado, ao me contar: – “Dr. Inácio, o Chico, quando psicografa, tira os sapatos e fica descalço, sob a mesa...”

Há pouco, nas paragens da Vida Maior, numa tertúlia com amigos comuns, dentre os quais destaco Rômulo Joviano, Zeca Machado, Clóvis Tavares, José Gonçalves Pereira, Spartaco Ghilardi e tantos outros, mencionei a conversa em que o médium amigo me contara sobre o hábito de Chico psicografar descalço. – “É verdade, Doutor – explicou Rômulo, com a anuência dos demais. – Desde Pedro Leopoldo, quer fosse às reuniões do Centro Espírita “Luiz Gonzaga” ou mesmo no porão de minha casa, na Fazenda-Modelo, Chico tirava os sapatos para receber os espíritos... Preocupada com a friagem do solo – a Fazenda ficava numa vasta região de brejo –, por insistência de minha esposa, ele passou, então, a aceitar um pedaço de papelão que o protegesse – depois, um pouco mais tarde, mandei confeccionar uma espécie de estrado de madeira para ele apoiar os pés. Não deixava de ser engraçado e pitoresco, pois, não raro, quando a psicografia terminava, todo o mundo saía, procurando os sapatos de Chico, que iam parar na outra ponta da mesa ou nos fundos do quintal, carregados por algum cachorro...”

- “Em Uberaba também era assim – emendou Gonçalves. – E fora de Uberaba também! Certa vez, participamos com ele de uma reunião comemorativa na “Casa Transitória”. Observei que Chico, enquanto escrevia, discretamente tirou os sapatos e ficou esfregando um pé no outro, feito uma criança a brincar...”

- “Quanta simplicidade e beleza espiritual!” – exclamou Clóvis, de olhos lacrimejantes.

- “E quantos exemplos para todos nós, médiuns de ontem e de hoje!” – afirmou Spartaco.

- “Principalmente para os médiuns de hoje – não perdi ocasião de enfatizar. – Com uma ou outra exceção, a turma hoje está psicografando de botinhas...”

O pessoal sorriu e eu continuei:

- “Nada, é óbvio, contra as preferências de alguém... Para mim, eles podem até psicografar de sandálias, dessas que não têm cheiro e não soltam a tinta... A coisa não está no pé – está na cabeça! E mais: está no coração!”

Enquanto a turma arregalava os olhos, ante o meu jeito espontâneo de ser, continuei:

- “O problema grave que vejo nisso tudo é que o pessoal fica nessa competição de quem usa o salto mais alto... Que contraste! Chico descalço, e eles de salto tipo “Luís XV”... Chico rente ao chão e eles nas alturas!...”

Foi quando Zeca, que ainda não tinha falado, rematou com a nossa plena aprovação:

- “Doutor, ao rés do chão, Chico estava com a cabeça nas estrelas... O que está faltando no Movimento Espírita da Terra é médium de pés descalços! Digo mais: de espíritas em geral, despidos de toda vaidade! O salto, de fato, anda muito desproporcional...”

- “É por isso, Zeca – conclui –, que eu sempre ando de serrote nas mãos...”



INÁCIO FERREIRA

Uberaba - MG, 1º de dezembro de 2009.

Um comentário:

  1. Lindo texto, Mara.
    Passando aqui para desejar-lhe um final feliz de semana, agradecer-lhe sua presença no Arca e deixar-lhe o meu carinho e amizade. Beijos.

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